Tuesday, August 26, 2008

Comunicado #8

A Teoria do Caos e A Família Nuclear

Domingo no Parque de Riverside, os pais colocam se filhos no lugar certo, ``pregando-os'' à grama como se por mágica, com sinistros olhares enfeitiçantes de camaradagem leitosa, e os forçam a jogar bolas de beisebol para um lado e para o outro durante horas. Os garotos quase parecem pequenos São Sebastião perfurados por flechas de tédio.
Os pretensiosos rituais de diversão familiar transformam todos os úmidos gramados do verão em parques temáticos; cada filho, uma alegoria inconsciente da riqueza do pai, uma representação pálida, duas ou três vezes distanciadas da realidade: a criança como metáfora de uma-coisa-ou-outra.

E aqui eu chego ao cair da tarde, chapado de pó de cogumelos, meio convencido de que essas centenas de vaga-lumes surgem da minha própria consciência - Onde andavam eles todos esses anos? Por que tantos, tão de repente? - cada um ascendendo num momento de incandescência, descrevendo rápidos arcos como gráficos abstratos da energia do esperma.

``Famílias! Os avaros do amor! Como eu as odeio!'' Bolas de beisebol voam sem rumo da luz vespertina, algumas se perdem, as vozes elevam-se em exaustão mendigada, mas ainda assim os Pais insistem em estender o tépido poslúdio de seu sacrifício patriarcal até a hora do jantar, até que as sombras comam a grama.

Entre os filhos da plebe há um cujo olhar por um momento cruza com o meu - transmito telepaticamente a imagem da doce licença, o cheiro do TEMPO liberto de todas as amarras da escola, das lições de música, dos acampamentos de férias, das noites familiares ao redor da TV, dos domingos no parque com papai - tempo autêntico, tempo caótico.

Agora a família está deixando o parque, um pequeno batalhão de insatisfação. Mas aquele menino se volta e sorri para mim, em cumplicidade - ``Mensagem Recebida'' - e dança atrás de um vaga-lumes, encorajado por meu desejo. O pai ladra um mantra que dissipa meus poderes.

O momento passa. O garoto é engolido pela textura da semana - desaparece como um pirata seminu ou um índio que foi levado prisioneiro pelos missionários. O parque sabe quem eu sou, mexe-se sob mim como um jaguar gigante pronto para despertar para sua meditação noturna. A tristeza ainda o detém, mas ele continua indomado na sua essência mais profunda: uma estranha desordem no coração da noite da cidade.

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